quinta-feira, 1 de março de 2012


Joaquim não apareceu de novo em nossas ruas, as janelas de sua casa estão cada vez mais paralisadas.
JOAQUIM LEIA NOSSOS BILHETES
Quem tinha esperança de bater em sua porta e encontrá-lo, hoje apenas tenta acostumar-se com memórias.
Sabemos que ele está vivo, mas por que não aparece mais?
Dentro de sua casa, Joaquim tenta desenhar novamente na madeira antes moldável e amiga, hoje dura e fria, sem manifestações. Logo, ele a deixa de lado, diz para si mesmo que o momento não é de inspiração, não é o momento para voltar a construir os brinquedos de madeira, um consolo para não assumir sua desistência momentânea, quase oficial.
Joaquim se tornou dois. Seu corpo e sua mente não conversam mais, acordos não são estabelecidos, ele mergulha em livros imaginários, aventuras, enquanto seu corpo segura nas mãos livros reais, mas amarelados sem serem apreciados. Suas mãos estão cada vez mais limpas, sem uso, delicadas. Seu corpo desfruta mais de suas mãos e seus olhos vagos do que sua mente, que luta para mover-se, mas não existem membros para ajudá-la.
Algumas pessoas cochicham nas ruas sobre ver Joaquim rapidamente dentro de sua casa nos raros momentos de janelas abertas.
Os comentários são unânimes: – Ele precisa voltar, mas não temos esperança.
Preciso criar coragem para jogar na casa de Joaquim um bilhete pedindo para ele levantar do sono que não consegue acordar.
Eu quero brincar com brinquedos novos, quero companhia para imaginar possibilidades criativas novamente, mas com ele. Irei amarrar meu bilhete em uma pedra grande e escura, para que ele tropece, machuque as mãos e os joelhos na queda. Para que enxergue no chão a sua frente todos os outros bilhetes amarelos e borrados que acumulam aos montes no quintal sujo de sua casa e resolva voltar.


Lucas Prezom

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