quinta-feira, 1 de março de 2012

Amor


"N'Ele vivemos, nos movemos e somos."
(Atos dos Apóstolos 17, 28)

Procuraste por este Poema.
Nasceste - humanidade individualizada
na matéria quantificada do teu corpo.
Emanou da tua forma - intelecto possível -
os poros pelos quais um dia descobririas
o que há para além da chama trêmula infundida
e que dirias ser aquilo pelo que conheces.
E abriste os olhos e viste Ele, ali,
como a última lembrança antes da memória,
fardado como se fosse um tio, disfarçado
atrás de um sorriso em forma de verso.
E Ele era o monstro que alegavas em cada desconhecido
e que vagamente pressentias a cada filme de terror - era porque o Poema estava
ali, por perto, assoprando cada calafrio que tua pele exercia.
Alguns de Seus apelidos foram Zé Pipoca, Homem do Saco, Bicho Papão, Boi da Cara Preta,
e cada um desses eram aspectos d'Ele, unidos hipostaticamente.
Comeste pão, bebeste água
e não O achavas ainda.
Percorreste certa vez aquela rua noturna
e tiveste medo de encontrá-Lo no beco,
nem sequer olhaste temorosa em descobrir dentro daquela verdade escura
a Sua plena realização, e, de fato, Ele estava lá.
Ele era o dono dos passos que te seguiam até que maliciosamente Ele se escondesse na esquina
para revisar a última estrofe.
E apressar o passo foi inútil pois Ele estava do teu lado quando dormias,
e Ele se declamava em voz alta
quando te afundavas em sono profundo - e era como aqueles que, já afogados, gritam
submersos já sem ilusões. E Ele conspirava para esconder-Se assim que acordasses.
E acordavas, e tomavas café e não O encontravas.
Novamente pão e água, e, pensavas, "ainda nada". Te enganavas tanto.
O pão era a carne d'Ele, e a água era Seu sangue - aquilo que ingerias sem saber a origem.
E Ele estava na tua cama
como um amante com quem te esqueceste de casar.
Depois, quando longe te cansavas trabalhando, ele era o ladrão que roubava tua casa
e estes são alguns artefatos furtados - cama, televisão, mesa - que, depois de Ele ingeri-los
passaste somente a parasitar.
E aí, agora, descobres, em verdade, que já estavas n'Ele, e és d'Ele
e não há a menor possibilidade de saíres d'Aqui
e curares a tua clasutrofobia.
Estás trancada em Mim.

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