terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Permaneci sentada na beira da calçada olhando os pingos cair nas poças de água compridas & chatas formando ondinas bonitas & mágicas. Ele estava em pé ao meu lado, sóbrio, cigarro aceso nos dedos amarelados pelos anos e boca seca de tanto tagarelar, impaciente falando sem parar da previsão do tempo, das últimas notícias, do salário que anda mal... Eu ouvia calada e gostava do jeito simplório que ele usava pra gesticular sem parar enquanto cuspia palavras e gotículas de saliva grossa que pareciam embalar a chuva com seu tom rouco-aveludado. Minha cabeça cheia de caraminholas & planos benditos para quem sabe uns dois séculos daqui... Eu acho que ele podia prever que tudo aquilo me satisfazia - ilhados num posto de gasolina de tons amarelo-queimado - se resolvesse sentir um pouco, além de despejar palavras bonitas & chatas para passar o tempo que eu nunca quis que passasse. A chuva acalmava & persistia gradativamente conforme eu queria, enquanto ele continuava a falar sem parar como um papagaio treinado sobre assim & assado... eu continuava a dar trela pro acaso.

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