quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Lou Reeds,
Deitamos e amamos o sexo e a vida. Olhamos de repente para fora do quarto e o que existe? Através da janela uma campanha contra AIDS, na televisão que esquecemos ligada na sala um anúncio de desodorante, no qual corpos de mulheres nada mais são que ferros puxados por imãs. Fora desse quarto há o contracheque e um ensino a nos dizer que esse ócio é perigoso, que o trabalho nos enobrece. Mas que trabalho? Repetir, gastar nossas vozes por 6, 8, 10, 12 horas... Para quem, por que? Não há o que explique o porquê fazer o que amo é podado, porque ensinar significa cair numa sala suja, com cadeiras quebradas, olhando descrente perante crianças que talvez não tenham sequer os sapatos. Volto a olhar-te e entendo. Volto a pensar e entendo. Junto a essa lágrima que escorre devagar em meus olhos vai passando aos poucos o filme de todas as frustrações que vi e vivi, pessoas lindas tolhidas, desesperançadas, por pessoas que nem elas, cujo brilho foi sempre tirado na marra por um discurso, por um NÃO!  Vendo a felicidade vejo tudo que me obriga a vivê-la somente em momentos, nunca plenamente. Vejo outros, iguais a mim, que sequer esses momentos têm, porque precisam superar a fome. Vejo os impotentes que nos tiram tudo, consumindo-nos para preencher um vazio.  Vejo a doença... Um dia um homem disse que  para o educador há apenas uma fidelidade: ao que há de vivo na criança. Há algo  nisso que eu agora entendo te abraçando essa noite. E é para viver plenamente isso, e acreditar que todos deveriam que vale a pena de lutar.

João Gabriel

Nenhum comentário:

Postar um comentário