Fui criança: brinquei, sorri, amei e fui amado.
Nos olhos dos meus pais vi muitas lágrimas e elas brotaram
espontaneamente, quando engendrei as primeiras palavras.
Senti orgulho ao vê-lo sorrir e, sorri também.
Ao alçar o primeiro passo escutei a frase de incentivo escapulir entre os
lábios do velho: – Anda meu filho, o mundo é teu. O choro embargou a voz
de minha mãe e as lágrimas rolaram em sua face sorridente.
A adolescência chegou e diante dela o mundo se abriu.
O universo que pensei estar reduzido a colégio e lar, com a chegada da
pré-adolescência, expandiu-se num estalo; amigos; meninas; baladas; festas e...
Senti-me uma divindade. Tudo estava ao meu alcance e em breve a
maioridade me presentearia com a liberdade que pensei não ter, pois, meu pai,
esboçando uma estampa sisuda, com o dedo a balançar ao lado do rosto,
repetia sempre que me via pronto a sair. – Mantenha-se longe das drogas, da
bebida e das brigas... Selecione os amigos e afaste-se dos problemas. Pegou a
camisinha? Questionava mamãe.
Eu respondia um sim, sussurrado, quase não querendo responder e
escutava meu pai complementar; sempre. – Não esqueça meu filho: “As
atitudes do jovem, alicerçam o homem”.
Segui seus conselhos por anos e por anos fui feliz, mas tinha me
tornado adulto e, pra festejar, decidi quebrar as regras seguidas até então.
Balada regada de mina e a pancada do som vibrando no peito. Tudo era
divino naquela noitada libertária e a voz da mina, soou como flauta encantada!
- Deixa de ser careta, ao menos uma vez na vida, cochichou a princesa
que acariciava meu rosto.
- Verdade - pensei -. Pra tudo existe uma primeira vez. E eu que, até
então, bebericara, afoguei-me na liberdade que o álcool injetava em minhas
veias, a cada gole.
Mal sentia o tato quando sentei por detrás do volante do carro, que
ainda nem era meu. Enterrei o pé na lata, escutei o chiar e ainda senti o cheiro
de borracha queimando quando o deslocamento do ar me empurrou de contra
o encosto... Cara! Pura adrenalina.
Depois o mundo girou, e eu apaguei, de vez.
Foi por mim mesmo, e pela irresponsabilidade do feito, que meu
mundo infinito reduziu-se a este leito.
As lágrimas hoje são minhas e não são de alegria, não consigo sequer
secá-las... não sou mais dono de mim mesmo, e meus olhos que corriam pela
vastidão do universo, permanecerão pra sempre, vislumbrando apenas um
teto.
Celso da silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário