sábado, 3 de dezembro de 2011

DESABAFO DE UM ADOLESCENTE



Fui criança: brinquei, sorri, amei e fui amado.
Nos  olhos  dos  meus  pais  vi  muitas  lágrimas  e  elas  brotaram
espontaneamente, quando engendrei as primeiras palavras.
  Senti orgulho ao vê-lo sorrir e, sorri também.
  Ao alçar o primeiro passo escutei a frase de incentivo escapulir entre os
lábios do velho: – Anda meu filho, o mundo é teu. O choro embargou a voz
de minha mãe e as lágrimas rolaram em sua face sorridente.
  A adolescência chegou e diante dela o mundo se abriu. 
  O universo que pensei estar reduzido a colégio e lar, com a chegada da
pré-adolescência, expandiu-se num estalo; amigos; meninas; baladas; festas e...
Senti-me  uma  divindade.  Tudo  estava  ao  meu  alcance  e  em  breve  a
maioridade me presentearia com a liberdade que pensei não ter, pois, meu pai,
esboçando  uma  estampa  sisuda,  com  o  dedo  a  balançar  ao  lado  do  rosto,
repetia sempre que me via pronto a sair. – Mantenha-se longe das drogas, da
bebida e das brigas... Selecione os amigos e afaste-se dos problemas. Pegou a
camisinha? Questionava mamãe.
  Eu  respondia  um  sim,  sussurrado,  quase  não  querendo  responder  e
escutava  meu  pai  complementar;  sempre.  –  Não  esqueça  meu  filho:  “As
atitudes do jovem, alicerçam o homem”.
  Segui  seus  conselhos  por  anos  e  por  anos  fui  feliz,  mas  tinha  me
tornado adulto e, pra festejar, decidi quebrar as regras seguidas até então.   
  Balada regada de mina e a pancada do som vibrando no peito. Tudo era
divino naquela noitada libertária e a voz da mina, soou como flauta encantada!
   - Deixa de ser careta, ao menos uma vez na vida, cochichou a princesa
que acariciava meu rosto.
  - Verdade  - pensei  -. Pra  tudo  existe uma primeira vez. E  eu que, até
então,  bebericara,  afoguei-me  na  liberdade  que  o  álcool  injetava  em minhas
veias, a cada gole. 
  Mal  sentia  o  tato  quando  sentei  por  detrás  do  volante  do  carro,  que
ainda nem era meu. Enterrei o pé na lata, escutei o chiar e ainda senti o cheiro
de borracha queimando quando o deslocamento do ar me empurrou de contra
o encosto... Cara! Pura adrenalina. 
Depois o mundo girou, e eu apaguei, de vez.
          Foi  por  mim  mesmo,  e  pela  irresponsabilidade  do  feito,  que  meu
mundo infinito reduziu-se a este leito.
  As  lágrimas hoje  são minhas e não são de alegria, não consigo  sequer
secá-las... não sou mais dono de mim mesmo, e meus olhos que corriam pela
vastidão  do  universo,  permanecerão  pra  sempre,  vislumbrando  apenas  um
teto. 

Celso da silva 
  

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